HISTÓRIA DA ACE
ACE – Associação Catarinense de Engenheiros - o grande órgão emulador
Fundada no ano de 1934, a ACE traz no pioneirismo uma de suas principais marcas. Sob o signo da Nova Constituição Brasileira, votada e promulgada naquele ano, a ACE representava a percepção da sociedade quanto aos direitos individuais e da necessidade de lutar, em conjunto, pelos pleitos coletivos das diversas classes profissionais. O associativismo vivia dias de grande impulso e, em terras catarinenses, 26 engenheiros se unirampara fundar uma entidade que os representasse: surgia a ACE. Esse foi o embrião de todo o sistema organizacional da engenharia em Santa Catarina, sendo originários dessa iniciativa a formação do CONFEA, do CREA e dos Sindicatos de classe. Todos os movimentos que hoje fortalecem a respaldam o exercício da engenharia em Santa Catarina, e seu reflexos na sociedade catarinense tem a sua origem no mérito da criação da ACE. Desde a fundação aos dias atuais são 80 anos de profícuo trabalho em prol do engrandecimento da profissão e dos seus profissionais.
1974 a 1984
Tempo de solidificar
Presidentes dessa década:
José Corrêa Hülse
Mario Luiz Menel da Cunha
Nelson José Althoff
Carlos Alberto Ganzo Fernandes
Otávio Ferrari Filho
Anibal Borin
Em maio de 1974 José Corrêa Hülse foi novamente guindado ao cargo máximo da ACE.
O deslocamento da sede da Eletrosul do Rio de Janeiro para Florianópolis, ocorrido em 1975, impulsionou o desenvolvimento da capital catarinense, já que vários profissionais para cá se mudaram. A Eletrosul é uma empresa subsidiária da Eletrobrás que tem por finalidade a geração e transmissão de energia elétrica. A ACE recebeu inúmeros novos associados que vieram permear o tecido social da entidade com novas idéias e posições corporativas. Já em 1977 a classe de engenheiros catarinense teve motivos de sobra para comemorar, como o início do Curso de Arquitetura e Urbanismo, e a graduação em Ciências da Computação, ambos na UFSC.O incremento nas diversas engenharias naquele educandário continuaria com a inauguração, em 1979, do curso de Engenharia Sanitária.
Já vinha há tempos a preocupação da classe a respeito da necessidade de ampliação das vias de transporte do nosso estado e a mobilização era constante da parte de inúmeros órgãos oficiais representativos de classes. A FIESC, na pessoa do seu então Presidente, Bernardo Wolfgang Werner, fazia constantes manifestações a respeito e a ACE não demorou a se alinhar ao pleito, mais do que justo, para a duplicação da BR 101 que, nessa época, já se encontrava estrangulada. Como eixo estratégico para todo o sul do país, a rodovia estava à míngua de recursos havia tempos e, embora tivesse sido elaborado um primeiro projeto para sua duplicação pelo DNER/SC, em 1977, por falta de recursos do Governo Federal, as obras não foram sequer iniciadas.
Em maio de 1977, como já era tradição, a ACE realizou eleições gerais e o engenheiro eletricista Mário Luiz Menel da Cunha assumiu a presidência da entidade. Pesquisador nato de novas fontes de energia, o profissional entraria em consonância com iniciativas da UFSC no que tange a pesquisa de novas fontes energéticas. Tanto que, alguns anos depois, o Presidente reuniria uma plêiade de profissionais para oferecer consultoria nesse tão novo quanto desafiante setor da engenharia. No ano seguinte foi a vez de Nelson José Althoff assumir a gestão da entidade, depois de haver exercido a vice presidência no ano anterior, na gestão de Mário Luiz Menel da Cunha. A gestão de Nelson Althoff foi marcada pela utilização maciça de todos os meios de comunicação a fim de divulgar mais amplamente a engenharia, seus profissionais, assuntos correlatos e os temas palpitantes ligados ao exercício dessa brilhante profissão, com ênfase na questão energética, que começava a tomar vulto no Brasil.
1978 marca a criação do curso de graduação em Engenharia Química. Essa faculdade visava atender a grande demanda de profissionais desta área nas indústrias que proliferavam em cidades como Brusque, Blumenau e Joinville. Foram implantados também os cursos de Engenharia de Alimentos e Engenharia Sanitária e Ambiental. Em 1979 o então ministro de Minas e Energia proferiu uma palestra na UFSC a convite da ACE a respeito de fontes alternativas de energia tais como o programa Proálcool, metanol, carvão e energia solar. Essa palestra vinha em consonância com um movimento interno da universidade, de intensificar os investimentos em pesquisas, notadamente no que tange às fontes alternativas de energia e muito mais ainda com o pensamento da ACE, como já se viu anteriormente. É importante que se destaque que todas as iniciativas exaradas da direção das engenharias da UFSC, partiam das mesmas cabeças pensantes que atuavam na ACE, sendo as duas entidades dois braços que, juntos, lutavam pela qualificação do segmento em todo o nosso estado. Assim sendo, em 1979 a UFSC dinamizou seus estudos e projetos de âmbito interdisciplinar, nas áreas de energia solar, carvão, biomassa, mini quedas, energia eólica, hidrogênio, racionalização do uso e conservação de energia com a criação do Núcleo de Alternativas Energéticas da UFSC. Esse centro de estudos começou a se instrumentalizar na busca de soluções alternativas energéticas, mediante uma portaria baixada pelo então reitor Caspar Erich Stemmer.
Em 1979 tomou posse como presidente da ACE o engenheiro Carlos Alberto Ganzo Fernandez. Nos primeiros momentos de sua gestão, declarou em entrevista como pretendia melhorar a imagem dos profissionais da área junto à opinião pública. Na época, os engenheiros estavam sendo acusados de elaborar projetos incompatíveis com o meio ambiente.Ganzo teve a honra de presidir a entidade no ano em que a mesma comemorou 45 anos de atividades e luta incansável pela valorização de seus profissionais.
De olho nesse objetivo, a entidade promoveu um cursoministrado pelo ecólogo João José Bigarella, que na ocasião advertiu: “Caminhamos aceleradamente para a degradação do nosso meio ambiental e o desastre ecológico. Esta situação talvez pudesse ser evitada se cada um de nós se comprometesse a assumir uma atitude de consciência e luta para a manutenção da Segurança Ambiental. Temos cultura, tecnologia e condições para promover o desenvolvimento racional de nossa pátria”.
Também ressaltou a importância da utilização de fontes alternativas de energia com investimento em novas tecnologias.
Em consonância com o tema, em agosto de 1979 aEletrosul divulgou informações pertinentes ao consumo e produção de energia elétrica no estado. “Santa Catarina apresenta hoje o maior consumo per capita de energia da região sul, com 721 quilowatts por habitante. E para surpresa dos vizinhos Estados do Rio Grande do Sul e Paraná, também apresenta uma taxa de crescimento anual de 15,6%, maior do que o registrado no Paraná – 13,6%, ou no Rio Grande do Sul – 12,7% (dados relativos ao período 1974-1978).”A informação deixava clara a necessidade premente de investir quase todo o faturamento em obras que assegurariam o fornecimento de energia para impulsionar o crescimento de Santa Catarina.
O surgimento e fortalecimento das autarquias e órgãos diversos, ligados ao exercício das diversas aplicabilidades da engenharia no âmbito catarinense, vinha levando ao constante incremento no número de associados da ACE. Assim é que neste ano em que completou 45 anos, a entidade festejava o número recorde de 914 filiados.
Em agosto daquele mesmo ano a indignação tomou conta dos engenheiros em Santa Catarina e a ACE mais uma vez se fez porta voz desse descontentamento. O governo do Estado de Santa Catarina contratara uma empresa gaúcha para elaboração dos projetos globais dos hospitais de Joinville, Florianópolis e Chapecó, sem licitação. O protesto veio em forma de Nota Oficial publicada no jornal “O Estado” em 23 – 08 – 1979 .O governador na época era Jorge Bornhausen.
Outra bomba a estourar nesse mesmo ano e atingir diretamente a classe engenheira catarinense veio quando foi divulgado um laudo elaborado pelo INPM (Instituto Nacional de Pesos e Medidas), dando conta de inúmeras fraudes cometidas pela Companhia Catarinense de Cimento Portland, localizada em Itajaí. A partir de uma denúncia feita por AscânioRiccio, então diretor da ACE, o órgão pode constatar que o consumidor vinha sendo lesado e os profissionais de engenharia inocentemente colocavam em risco seus projetos e obras. Foram analisados cerca de 30 sacos de cimento da marca Votoran, nos quais ficou comprovada a fraude. As embalagens com indicação nominal de 50 quilos apresentavam uma diferença de 11% a menos de produto.
Conscientização e esclarecimento tornavam-se, cada dia mais, palavras de ordem nas atividades da ACE e assim sendo, naquele período, a entidade criou um Departamento de Ciência e Tecnologia, a fim de desenvolver uma série de atividades com o objetivo de difundir entre os associados, uma maior consciência a respeito da importância da tecnologia e do papel do tecnólogo na sociedade. Para isso, tornava-se fundamental o esclarecimento de certos conceitos constantemente empregados quase sempre de maneira errônea.
Na segunda metade da década de 1970, as frequentes enchentes que invadiam o pavilhão da Engenharia Mecânica eram um grande transtorno aos alunos e professores. A princípio o Conselho Nacional de Pesquisa (CNPq) não investia nas melhoras necessárias justificando que Florianópolis não era um polo industrial do porte e importância, a exemplo de São Paulo. Após muita negociação foi agendada uma visita de um representante do CNPq. Ao ver um aluno, vestido com trajes de banho limpando um motor recém atingido por uma enchente, foi o suficiente para convencer o CNPq a ajudar a UFSC com um dos maiores auxílios individuais já liberado no contexto nacional.
No final de década de 1970, intensificaram-se os desentendimentos entre engenheiros, notadamente o arquiteto Luiz Felipe Lobo Gama D’Eça e autoridades da prefeitura de Florianópolis arespeito do plano diretor da cidade. De um lado, autoridades justificando que não havia recursos financeiros para grandes investimentos, pela inflação em ritmo de aceleração e a crise do petróleo, e do outro, projetos criados por técnicos que vislumbravam o acelerado crescimento urbano da capital.
Em novembro de 1979 o presidente do Conselho Federal de Engenharia e Arquitetura, Inácio de Lima Ferreira, participou em Florianópolis das atividades da 36ª Semana Oficial da Engenharia, Arquitetura e Agronomia, conclamando a classe, durante a solenidade de abertura do evento, a estar atenta para os graves problemas de mercado de trabalho, da correção e atualização de salários, de relacionamento entre colegas e da maior participação destes no contexto socialnacional. Enfocou, entre outros assuntos, que as multinacionais vinham tirando espaço da mão-de-obra local, privilegiando profissionais de outras localidades. Logo em seguida, no final daquele mesmo ano, a ACE alcançou mais um importante objetivo para a classe, com a constituição, pelo Gabinete de Planejamento do Estado, de uma comissão de estudos que elaboraria a regulamentação referente às Licitações para Obras e Serviços, reivindicação dos profissionais catarinenses que vinha sendo alvo da campanha desenvolvida pela diretoria da entidade.
O ano de 1980 começou intenso, com a realização de debates versando sobre o Programa Nacional do Álcool (Proálcool). Segundo conclusões dos profissionais ligados à ACE, o programa não vinha cumprindo um dos seus principais objetivos, resolver os problemas do homem do campo. Além disso, alertavam para o perigo de intervenção de monopólios estatais, controle pelos grandes grupos e absorção pelas empresas multinacionais. Mas as atenções do segmento e de seus profissionais estavam voltadas para a grande obra em execução na capital. Tratava-se do novo Terminal Rodoviário, em construção nas proximidades da cabeceira da Ponte Colombo Sales, junto ao Aterro da Baía Sul, com previsão de conclusão para dezembro daquele mesmo ano. Em março daquele ano o engenheiro Daniel José da Silva, com especialização em hidrologia e recursos hídricos na Escuela de Hidrologia (Madri /Espanha), mestrando em hidrologia aplicada pelo Instituto de Pesquisas Hidráulicas (Porto Alegre/RS) e professor do curso de Engenharia Sanitária da UFSC levantaria um assunto polêmico: a questão do asfaltamento das ruas centrais de Florianópolis. A questão envolvia asfaltamento de ruas somente para pedestres, impermeabilização das superfícies e viabilidade financeira entre outros fatores.
Em entrevista ao Jornal do Brasil, o ministro das Minas e Energia César Cals, afirmou que a Eletrosul poderia ser a concessionária da Eletrobrás escolhida para construir as duas próximas usinas nucleares previstas pelo acordo Brasil/Alemanha. A notícia causou grande impacto em Florianópolis e foi alvo de debates e estudos por parte dos profissionais da ACE.
Em Junho o Jornal da ACE completou seu primeiro ano, graças a confiança e fidelidade de seus leitores, bem como dos anunciantes que investiram no projeto. A importância do informativo interno afirmava-se cada vez mais, por ser ele veículo de divulgação de grandes nomes e temas pertinentes ao segmento e a representatividade da classe. Um exemplo disso foi o artigo, publicado na edição de Junho de 1980, de autoria do presidente da Fundação de Amparo a Tecnologia e ao Meio Ambiente sobre a preocupação com a causa ecológica afirmando que, para preservar a qualidade de vida, necessário se fazia a mobilização popular em torno desta causa. O fato de o Estado possuir apenas 14% de reservas florestais nativas, a poluição das bacias hidrográficas uma constante, e a resistência de alguns setores para com a causa ecológica, tornava-se motivo de grande apreensão.
Em 1980 a UFSC criou o curso de graduação em Engenharia de Produção.
Cada vez mais a integração entre a universidade e a ACE, através dos seus membros, tornava-se intensa e produtiva. Além de a diretoria visitar constantemente a universidade, cooptando os estudantes para a participação na entidade, os debates foram sendo cada vez mais intensificados, promovendo troca e interação de parte a parte sobre as mais viscerais questões a atingir nosso Estado. Prova disso foi um debate, realizado com universitários e profissionais em setembro de 1980, no qual foi constatado que o sul de Santa Catarina, apesar da ocorrência de uma série de minerais importantes, vitais para o processo de libertação da dependência de fontes energéticas estrangeiras, apresentava então grande defasagem econômica em relação as demais regiões do Estado. Para tentar dirimir esta situação preocupante, faziam-se necessários mais estudos e pesquisas de tecnologias próprias por parte de profissionais da engenharia em conjunto com universidades, para melhor aproveitamento desses recursos. Já em outubro 1980, aliando-se aos Sindicatos e Associações da categoria, estudantes e professores de engenharia repudiaram de forma veemente a proposta de regulamentação da Lei 5524 – que tratava das atividades dos técnicos de nível médio. Essa medida punha em risco o ensino superior no Brasil, pois igualava o técnico de nível médio ao de nível universitário. Além disso, submetia os profissionais de nível superior a cumprir períodos de formação bastante extensos. No final daquele ano, dentro dessa mesma filosofia de integração entre entidade e universidade, é deflagrada uma campanha em prol da defesa e valorização da Engenharia e Agronomia Catarinense. Assumida pela ACE e outras entidades da classe, visava a efetiva tomada de consciência por parte dos próprios profissionais e comunidade, que mesmo ocupando a vanguarda no que se refere a qualidade, deixavam muito a desejar com relação ao número, porte e especialização de outras empresas a nível nacional.
A intensa programação educativa desenvolvida no seio da proposta entidade/escola contou ainda com a realização, pela UFSC, de uma mesa redonda no Centro Tecnológico sobre a “Participação da Universidade na Criação de Tecnologia” com a presença de representantes do Conselho Nacional de Pesquisas, e das áreas de arquitetura, produção, engenharia mecânica e engenharia elétrica. O foco deste debate foi o enorme déficit provocado pela importação de tecnologia para o Brasil. A ACE fez-se presente abordando os principais pontos da discussão, com interessantes sugestões para o desenvolvimento científico e tecnológico.
Em dezembro 1980, durante os dias 15 a 17, realizou-se em Balneário Camboriú o 4° Congresso Brasileiro de Engenharia e Ciência dos Materiais. Com cerca de 200 participantes, o congresso proporcionou debates sobre uma área de vital importância para a indústria do Brasil: engenharia e ciência de materiais, cuja presença se faz notar, desde a fabricação de um tijolo até uma usina nuclear.
Logo no início do ano de 1981 a ACE convocou seus 1200 associados para irem às urnas, exercendo assim o soberano direito de escolha da nova Diretoria e Conselho Fiscal – gestão 81/83 – da entidade entre as chapas “Consolidação” e “Alternativa”. A simples existência de duas chapas e de uma saudável concorrência já demonstrava a maturidade atingida pela entidade em quase 50 anos de existência. Em consonância com esse novo estilo, a diretoria que encerrava seu mandato apresentou seu relatório final, cuja gestão entremeava o período de maio de 1980 a abril de 1981. Entre as ações e conquistas alcançadas e enumeradas no relatório estavam a busca de novos espaços para aperfeiçoamento e atuação dos profissionais da classe, luta pela reforma da política salarial vigente, publicação do jornal da ACE para divulgação das atividades e integração dos associados, promoção de atividades culturais e esportivas, bem como uma série de cursos, congressos e debates relacionados a área das engenharias em geral. Ficavam definitivamente para trás os tempos da associação tímida, empobrecida, que dependia da generosidade de um presidente, que lançava mão do próprio bolso para mantê-la viva. Vinham pela frente os tempos da ACE forte, importante, participativa e detentora de um patrimônio que exigia profissionalismo para ser gerido.
Em abril de 1981 o engenheiro Otávio Ferrari Filho foi eleito para a presidência da ACE, obtendo através da chapa “Consolidação” 375 votos. Participaram do pleito 587 engenheiros, o que representava um aumento de 48% em relação ao comparecimento nas eleições de dois anos atrás. A chapa “Alternativa”, propondo o engenheiro Ascânio Riccio para a presidência, obteve 208 votos.
Ainda naquele ano, fiel a postura de se posicionar clara e tecnicamente sobre as questões importantes na urbanização de Florianópolis, a ACE emitiu um parecer positivo a respeito da construção de um Centro de Convenções em Florianópolis, cuja necessidade já se fazia perceber. Porém afirmava que a viabilidade técnico-econômica de um empreendimento dessa natureza deveria ser estudada, relacionando-se elementos mínimos que condicionavam sua execução como, por exemplo, o local da obra, o plano viário e a adequação do projeto de acordo com a finalidade, objetivos e atividades a serem desenvolvidas. Importante lembrar que o início da década de 1980 foi de grande recessão para o país, registrando altos índices de desemprego. Na década de 70 a economia havia se expandido aceleradamente, o que resultara num gigantesco volume de grandes obras por todo o país e consequentemente uma época áurea para a área da Engenharia. Mas os tempos eram outros e a classe sofria os efeitos da equivocada política governamental vigente. Tamanha era a recessão do país nesta ocasião que cerca de 6% dos profissionais registrados no Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia (CREA) de Santa Catarina estavam desempregados. A conclusão era de que estavam sendo formados técnicos e engenheiros para um mercado inexistente, mesmo o Estado possuindo um expressivo parque industrial. Esse tema, assim como outras estratégias com a finalidade de valorizar e integrar engenheiros, arquitetos e agrônomos eram amplamente discutidos em reuniões da ACE.
Em novembro de 1981 aconteceu em Brusque o 3º Encontro Estadual dos Profissionais de Engenharia com número recorde de 46 participantes. Entre os temas debatidos estavam a criação de empregos agro industriais, habitação, saúde e saneamento a fim de diversificar a área de atuação dos profissionais, esclarecimento dos profissionais quanto ao relacionamento com o CREA e temas referentes a construção do gasoduto Argentina – Brasil passando por regiões carboníferas no sul do país, obra esta muito defendida pela ACE.
Sinal dos tempos e da evolução que atingia a entidade, em janeiro de 1982, no período que antecedia as eleições gerais, a ACE reuniu seus associados e, com apoio de outras entidades, apresentou suas ideias para o futuro plano de desenvolvimento do Estado. Foram formadas comissões, divididas pelos setores de urbanismo, energia, transportes, telecomunicações, saneamento, meio ambiente, ecologia, habitação, expansão e modernização industrial e obras públicas para promover um completo levantamento das necessidades catarinenses. Os objetivos eram oferecer subsídios para a elaboração de um Plano Estadual de Desenvolvimento e promover a conscientização quanto às implicações políticas e sócio-econômicas, orientar a opinião pública quanto ao desenvolvimento científico e tecnológico e incentivar o surgimento de novas lideranças.
Em 1982 o CTC completou 20 anos, detendo a reputação de ser um dos melhores núcleos de engenharia do Brasil e na área de Engenharia Mecânica, um dos melhores da América Latina. A cada ano que se passava, o CTC se consolidava na formação de alunos, desenvolvimento de pesquisas, execução de serviços para empresas privadas e órgãos governamentais, realização de cursos na área de engenharia econômica, de segurança, além de cursos de extensão. Na continuidade, o então presidente da ACE, Otávio Ferrari Filho proferiu uma palestra na UFSC sobre Recursos Humanos para a área do carvão, abordando também diversos aspectos relacionados. A experiência catarinense em mineração de carvão era a maior do país e a tecnologia empregada assegurava a viabilidade econômica na produção. Também não deixou de comentar a cerca de aspectos ambientais já que a atividade é considerada bastante poluente para o solo, água e ar. Na época a mineração na região carbonífera empregava pelo menos 17.000 trabalhadores.
Nesse mesmo ano o CREA ampliou a área de atuação em Santa Catarina. Os atos de posse do CREA em Joinville, Lages, Chapecó, Joaçaba, Blumenau e Canoinhas que se sucederam nos meses de março e abril proporcionaram integração e uma mostra da dinâmica que vinha sendo impressa às relações com os engenheiros, arquitetos e agrônomos de Santa Catarina.
Em maio de 1982 uma nova polêmica sacudiu o segmento, atingindo todo o Brasil e, por extensão, Santa Catarina. Uma lei aprovada no Congresso Nacional causou grande indignação e protestos entre os profissionais do Conselho Federal de Engenharia, Arquitetura e Agronomia (CONFEA) e do CREA. A lei previa um aumento de 700% do valor das anuidades e taxas devidas aos órgãos fiscalizadores do exercício profissional. O presidente do CONFEA, Onofre Braga de Faria e o presidente do CREA/SC Edison Flávio Macedo enviaram uma carta ao Presidente da República solicitando o veto da referida lei, justificando que comprometia os princípios de justiça social, enquanto paradoxalmente diminuía as anuidades das grandes empresas, provocando graves implicações estruturais e financeiras ao sistema.
Em maio de 1982 a ACE completou seu 48º. aniversário e as comemorações incluíram uma viagem técnica a Imbituba, para avaliar a instalação da Sidersul, seguida de uma palestra de Wladimir Pirróe Longo sobre planejamento regional. Também durante as festividades houve entrega de títulos de Sócios Beneméritos aos colegas Victor Otto Schaefer, OsnyBerreta, Georges Wildi, Newton Ramos e João Kalafatás. Foram outorgados títulos de Sócios Eméritos aos colegas Ricardo Schmithausen e João Eduardo Moritz. Houve ainda a realização do III Salão de Artes além de torneio esportivo.
Em julho de 1982, o engenheiro Edemar Soares Antonini, assessor técnico do CREA/SC e Coordenador do Núcleo de Inovação Tecnológica da UFSC, esteve em Criciúma a fim de debater com os Engenheiros Mecânicos da região “A responsabilidade dos Engenheiros da área industrial no desenvolvimento tecnológico da região”. Destacou o importante papel que a ART – Anotação de Responsabilidade Técnica – assumia para o sistema. Observou que através da criação de inspetorias em várias cidades do estado, o CREA/SC ia ao encontro dos profissionais buscando uma melhoria no sistema de informação.
Ainda no ano de 1982 aArea – Associação Regional de Engenheiros, Arquitetos e Agrônomos – com apoio da ACE, SENGE e CREA, realizou em Balneário Camboriú o 4º Encontro do Profissionais de Engenharia de Santa Catarina. Presentes ao evento representantes de 14 entidades ligadas a Engenharia, Agronomia e Arquitetura. Foram abordados temas como salário mínimo profissional, tabela de honorários, mecanismos de fiscalização, custos da profissão e mercado de trabalho. Debates sobre temas políticos da atualidade se tornaram cada vez mais freqüentes dentro da programação da entidade, sempre em busca de soluções para as graves questões que vinham afetando a classe profissional naqueles anos difíceis. Assim é que a ACE resolveu ouvir, naquele ano, as propostas de candidatos a cargos políticos nas eleições que se realizariam naquele ano. Para tanto realizou uma reunião-almoço com engenheiros e arquitetos que disputavam cargos nos legislativos estadual e federal. Compareceram cinco colegas para expor suas ideias e plataformas à dezenas de participantes. Francisco de Assis Filho, engenheiro civil e Amilcar Gazaniga, engenheiro elétrico, disputavam cargos na Assembleia Legislativa Estadual. Já Dirceu Carneiro, arquiteto, Paulo Afonso de Freitas Melro, engenheiro eletricista, e José Henrique Orofino da Luz Fontes, engenheiro civil, concorriam a cargos na Câmara Federal.
Ato dos mais importantes aconteceu no alvorecer de 1983 quando uma comissão representando o segmento da engenharia, arquitetura e agronomia, apresentou ao recém empossado Governador do Estado de Santa Catarina, Esperidião Amin, o Projeto Santa Catarina. Eram mais de 200 páginas de planos, gráficos e ilustrações cujo objetivo principal seria oferecer subsídio nas áreas de sua abrangência. Visava também promover o envolvimento dos profissionais no cenário político-social baseado no profundo conhecimento dos problemas de infra-estrutura do Estado.
Em março de 1983 o Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia de Santa Catarina – com aproximadamente 10.000 profissionais e 1.500 empresas registrados – comemorou 25 anos de fundação. A entidade já estava então instalada nos 12 principais polos regionais do Estado. O jubileu de Prata foi uma festa de integração e trabalho que contou com a participação de presidentes de CREA’s, entidades e profissionais. Logo em seguida o órgão fazia a divulgação das normas específicas para as atividades de projeto e fabricação de aquecedores solares, manutenção e instalação de ar condicionado e câmaras frigoríficas, e ainda sobre gaseificadores. As referidas decisões, a cargo da Câmara de Engenharia Industrial, foram tomadas com base no objetivo maior do Conselho, que é a defesa da comunidade através do aperfeiçoamento profissional. Também através de sua Câmara de Engenharia Elétrica, revela as instruções à fiscalização sobre o exercício profissional nas atividades referentes a instalações elétricas, telefônicas e especiais – incluindo iluminação, sonorização, alarme, circuitos de TV e antena coletiva.
Naquele ano os 49 anos da ACE foram comemorados com uma programação de estudos e confraternização além da posse de AnibalBorim na presidência da entidade e da nova diretoria. O professor Fernando Marcondes de Mattos proferiu palestra sobre as perspectivas econômicas do Brasil, enquanto o presidente da Telepar, engenheiro Gilberto Garbi, falou sobre o papel do engenheiro nas empresas públicas. Foi aberto o IV Salão de Artes e aconteceram ainda diversos torneios esportivos.
Naquele ano uma verdadeira calamidade atingiu o Estado de Santa Catarina, com a ocorrência de cheias que avassalaram inúmeras regiões do Estado. Atenta a realidade, a ACE, juntamente com outras entidades do mesmo segmento, se mobilizou em imediata defesa da engenharia catarinense, pelo fato do governo contratar empresas que não eram de Santa Catarina para a realização de obras de reconstrução no Estado. Incansavelmente o segmento ganhava espaço na imprensa, buscando a conscientização dessa situação.
Em novembro de 1983 aconteceu um fato há muito esperado por toda a classe de engenheiros no Brasil: a promulgação da Lei nº23.569, que regulamentou a profissão dos Engenheiros e Arquitetos.
No ano de 1984 é realizado, no Centro de Convenções da CITUR, em Balneário Camboriú, o VI Congresso Regional e III Feira Nacional de Informática. Foi a primeira vez que o Estado de Santa Catarina sediou esse tipo de evento. O fato assumiu invulgar importância diante da constatação de que éramos o único Estado da região que não possuía fábricas de mini e microcomputadores, apesar do vertiginoso ritmo de crescimento que a informática vivia em todo o mundo.
A Assembleia Geral do dia 24 de maio de 1984, data que marcou os 50 anos da ACE, foi comemorada com muitas recordações na presença de alguns de seus fundadores, autoridades, profissionais e convidados. Em seu discurso de saudação, o presidente Anibal Borin historiou a vida da ACE, narrou as dificuldades e anseios da categoria, anunciou o início das obras de reforma e ampliação da sede social, agradeceu e parabenizou os colegas que “pelo espírito de luta, esforço e dedicação que fizeram a grandeza desta associação.”
As obras de ampliação não ficaram só no discurso e foram iniciadas em agosto daquele ano. À área então existente, de 400 m², foram acrescidos 250m² divididos em dois pavimentos, incluindo uma ampla sala para reuniões e um auditório para cerca de 100 pessoas. O projeto foi elaborado pelo arquiteto Edilson Goeldner e, numa breve campanha junto a empresas privadas, foram arrecadadas as verbas para sua execução.
Durante o ano do cinqüentenário, enquanto os associados se debruçavam sobre a análise e estudo para a elaboração de um novo estatuto, obras importantes tomavam vulto no Estado, sob a gestão do Governador Espiridião Amin, tais como 250 km de rodovias bem como a pavimentação de outros 336 km. As obras mais em evidência eram a construção da BR – 282, a restauração das pontes Hercílio Luz e Colombo Machado Salles. Finalmente em dezembro daquele ano a diretoria da entidade resolveu convocar, através de Diário Oficial, uma Assembleia Geral Extraordinária na qual foi aprovado o novo estatuto, com algumas modificações sugeridas, dentro do atual contexto da engenharia catarinense.